domingo, 8 de janeiro de 2012

Rir pra não chorar

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Sabe aquele garoto do colégio, por quem você nutria uma paixonite secreta e que, 15 anos depois, reaparece, mais lindo do que nunca, e diz: "eu sempre fui apaixonado por você desde os tempos do colégio"?

Escrevo este texto ao som de “Saber Amar”, dos Paralamas. Música que, até hoje, quando ouço, me faz lembrar dele. Estava na casa de uma amiga, que também era sua amiga, ouvindo o disco 2 do “Vamo Batê Lata” e estava tocando exatamente essa música quando ele chegou de surpresa. Fiquei gelada e sem cor, porque não sabia como reagir à sua presença. Ele, sempre educado, me cumprimentou e acabou quebrando o gelo. Aquele dia foi bem legal. O mais legal do ano. Foi a primeira vez que nos falamos. Cheguei em casa radiante. O impossível havia acontecido! Desde então, todas as vezes que escuto "Saber Amar", imediatamente, ele me vem ao pensamento.

Era a sensação da turma 103, no colégio La Salle. Todas as meninas se derretiam quando ele entrava no ônibus escolar. Era uma disputa silenciosa para ver ao lado de quem ele iria se sentar. Pelo menos umas três ou quatro guardavam um lugar para ele. Eu sempre fiquei na minha, porque sabia que nunca teria chance. Ele sempre se sentava perto das meninas do segundo ano e, na sala, ele era muito amigo da mais bonita da turma. Ela tinha namorado, não queria nada com ele, nem ele dava mole para ela. Eram só amigos. Quisera eu ser só amiga dele; estaria de ótimo tamanho.

Sua irmã não ia muito com a minha cara. Era amiga de outra amiga minha e, por isso, só por isso, às vezes, andávamos juntas. Ela não gostava de mim porque uma vez eu fiquei com um carinha por quem uma amiga chata dela era apaixonadinha. Ela tomou as dores da garota. Normal entre as adolescentes. Por isso sempre preferi os meninos. Não tinha frescura nem essa coisinha irritante de ficar tomando dor do outro.

Na turma 103, eu era amiga de todos os meninos, menos dele. Ele também não andava muito com o pessoal da sala e eu nunca tive coragem de me aproximar. Eu o via como alguém inacessível. Às vezes o surpreendia olhando em minha direção, mas nunca achei que era para mim que ele olhava, claro que não. Logo eu que era tão desengonçada, magricela e grandalhona, que só usava calça de moletom, com vergonha das pernas finas e, no auge dos 14 anos, nem sutiã usava, porque os seios ainda nem tinham dado sinal. As meninas se arrumavam todas, eram bem vaidosas e eu sempre fui o patinho feio.

Uma vez, na aula de matemática, uma colega comentou, com despeito, que ele não tirava os olhos de mim. Eu fiquei envergonhada com a situação e não acreditei no que ela estava me dizendo. Olhei para ele e ele estava olhando também. Em frações de segundos desviei o olhar, porque não queria que soubessem que eu, como as outras meninas, me interessava por ele. Se ele soubesse, ia rir da minha cara, eu pensava.

Todos os dias, ao dormir, pensava nele. Como era lindo! Seu único defeito era ser um pouco menor que eu. Eu tinha vergonha de ficar com meninos mais baixos, mas isso não se aplicaria à ele. Quando as meninas começavam a falar dele, eu dizia: é até bonitinho, mas não faz meu tipo. Baixinho demais. Mentira, claro, eu estava desdenhando e, como quem desdenha quer comprar, eu estava completamente apaixonada.

As férias chegaram e, no ano seguinte, nas volta às aulas, eu não via a hora de vê-lo entrar no ônibus, com aquele sorriso lindo que ele tinha, mas aí o ônibus passou direto e não parou na porta da casa dele. Era o primeiro dia de aula, muita gente falta, pensei. Mas, para a minha tristeza, fiquei sabendo que ele havia mudado de escola e, desde então, nunca mais o vi.

Doze anos se passaram. Eu, que já não morava mais em Brasília, estava por lá, de férias, e estava ficando com um amigo do meu primo. Estávamos tomando cerveja num bar, quando ele, o garoto do colégio, passou. Parou o carro, desceu e falou comigo, como se fôssemos melhores amigos. Me espantei. Como ele poderia se lembrar de mim depois de tantos anos? Além do mais, na escola, eu passava despercebida na frente dele. Ele nunca me notou. Mas tudo bem. Conversamos por cerca de meia hora. Relembramos o tempo da escola, falamos dos colegas e sobre o que estávamos fazendo. Já tinha até me esquecido de que estava acompanhada, mas logo o cara que estava comigo fez questão de me abraçar. Ele foi embora, mas antes me deu um abraço bem apertado. Como eu esperei por aquele abraço!

Três anos depois (três semanas atrás), novamente nos reencontramos em Brasília. Desta vez, no sítio dos meus tios. Ele é amigo do meu primo e eu nunca soube disso. Continuava lindo. Mais lindo ainda. Eu estava sozinha, ou seja, não estava ficando com ninguém. Ele me deu um beijo no rosto e sentou-se ao meu lado. Conversa vai, conversa vem, percebi que estava me dando mole. É isso mesmo? Ele está dando em cima de mim? Foi o que pensei na hora. Então ele me olha e diz: lembra quando estudamos juntos? Lembro, claro, respondi. Então ele prosseguiu: sou apaixonado por você desde aquela época.

O que eu fiz? Comecei a rir. Meus ouvidos se recusaram a acreditar naquilo. Quer dizer então que eu poderia não ter sofrido? Quer dizer que se minha paixonite não tivesse sido secreta, eu poderia ter ficado e até namorado com ele? E eu não parava de gargalhar. Assustado, sem entender o motivo daquele rompante, ele perguntou qual era a graça. Eu, ainda rindo, respondi: nada não. Achei engraçado isso que você me disse, assim, depois de tantos anos. Queria ter dito isso antes, mas você não me dava bola, ele disse e prosseguiu: eu tinha medo de levar um fora. Eu não sabia se ria, se chorava ou se o beijava logo de uma vez. Não fiz nem uma coisa nem outra. Fiquei sem reação e ele, paralisado, me olhando. Até que meu primo chegou chamando a gente para encerrar a noite num bar, porque a cerveja tinha acabado. Você está de carro? Ele, o garoto do colégio, me perguntou. Não, eu não dirijo. Então você vai comigo, pode ser? Sim, sim, vou com você.

Entramos no carro e, finalmente, o beijo. Como eu queria que aquele beijo tivesse acontecido há 15 anos atrás. Eu fui às nuvens, parecia flutuar. Foi lindo. Ficamos juntos todos os dias em que estive em Brasília. Aproveitamos o máximo até o dia de vir embora. Não sei se foi aquela paixãozinha adolescente que voltou ou se, realmente, ele é muito bom. Em tudo. Pela primeira vez eu deixei as comparações de lado. Foi tudo muito bom. Mágico, eu diria. Mas alegria de pobre dura pouco e a minha durou duas semanas.

Na despedida, ele me olhou e disse que estava ainda mais apaixonado e que se eu ainda estivesse morando em Brasília, ele me pediria em namoro. Que lindo isso, gente. Alguém ainda pede alguém em namoro? Eu quase chorei ao ouvir, porque ninguém nunca me fez esse pedido antes. Eu ia ficando, ficando e lá pelas tantas os caras começavam a me apresentar como namorada. Hoje em dia, nem isso.

Ontem ele me ligou. Disse que está com saudade. Eu também. Muita saudade. Saudade do que poderia ter sido e que, por algum motivo, a vida não permitiu que fosse.

Por quê?

4 comentários:

Anônimo disse...

Que texto! Me vi nele, literalmente!
Aconteceu o mesmo comigo... só que, depois de anos, reencontrei a pessoa e eu, já casada, tive que manda-lo ir passear! Óh vida cruel! Pq as coisas demoram tanto para acontecer?
Mas vcs estão solteiros... e podem SIM fazer as coisas acontecerem (com mais intensidade, inclusive).
Vá menina! Se joga! E depois, me chama para ser dama-de-honra! rs

O Clube das Calcinhas disse...

Estamos tão longe e eu não pretendo voltar para BSB, nem ele pretende vir embora para a Bahia. rs

O Clube das Calcinhas disse...

Mas se ele quiser se mudar para o Rio de Janeiro, eu me mudo também! kkkkk

Rafaela disse...

Esse foi o texto mais lindo que já li no seu blog. E olha que acompanho faz tempo, viu rs
Que história inspiradora!

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